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A presença dos avós

Joanna de Ângelis

Trabalhadores do Bem

O Anjo de Varsóvia

 

Imaginemo-nos em Varsóvia, Polônia, entre 1940 e 1943, plena guerra. O país ocupado pelos nazistas. Os judeus, confinados em espaços exíguos e superlotados, passando fome, brutalmente agredidos moral e fisicamente, crianças morrendo nos braços de seus pais. Será que nós, cidadãos poloneses, com casa, emprego e relativamente estabilizados, nos colocaríamos em situação de risco e a nossos familiares para fazer algo a favor dessas pessoas?

 

Uma jovem arriscou-se, tornando-se o Anjo do Gueto de Varsóvia: Irena Sendler.

Nascida em 15 de fevereiro de 1910, nos subúrbios de Varsóvia, aprendeu com o pai, médico, a entrega da vida pelo seu semelhante. Quando irrompeu a epidemia de tifo, em 1917, ele foi o único médico a permanecer na área infectada, o que o levou a morte.

Mais tarde, quando perguntaram a Irena a razão pela qual se expusera tanto, para salvar duas mil e quinhentas crianças judias, respondeu simplesmente:  A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade. [1]

Formada em Assistência Social, Irena ingressara no Departamento de Bem-Estar Social, onde atendia os refeitórios populares que acolhia órfãos, anciões e pobres, fornecendo-lhes, ainda, roupas, medicamentos e dinheiro.

Em 1940, as tropas nazistas criaram, em Varsóvia, o gueto judeu. O bairro comportaria cento e sessenta mil pessoas. Foram colocadas em torno de quatrocentas mil. O local foi totalmente murado, tornando-se palco de crueldades inomináveis.

Irena, como funcionária pública e assistente social, tinha livre acesso, o que lhe permitiu conhecer a miséria ali reinante. A fome era tanta que muitas pessoas apenas se deitavam nas ruas, esperando a morte, sem forças para esboçar qualquer reação.

Ela começou a contrabandear alimentos, medicamentos e roupas. Logo se deu conta de que isso era apenas paliativo, precisava fazer algo mais.

Sua decisão foi retirar as crianças daquele gueto, o maior número que conseguisse. Para isso contou com a ajuda da Zegota, Conselho de Ajuda aos Judeus, organização clandestina da Resistência, que conseguia documentos falsos para as crianças e buscava instituições de amparo e casas de família dispostas a correr o risco de aceitá-las.

Espalhando notícias, entre os nazistas, de que tifo e outras doenças contagiosas acometiam os confinados no gueto, Irena planejou e colocou em prática arriscada estratégia.

A parte mais difícil era convencer as mães a lhe entregarem os filhos: Ela poderia prometer que seus filhos viveriam? Sua resposta era: O que posso prometer, quando nem sequer sei se conseguiremos sair do gueto?

Sendler utilizou-se de todas as formas possíveis para retirar as crianças: em caixas de ferramentas, sacolas, malas, cestos de lixo, sacas de batatas, por dentro do casaco. As  pequenas ou muito assustadas eram sedadas para não correrem o risco de chorar e serem descobertas.

Por ser idealista, o horror da guerra não lhe arrefeceu a esperança da primavera de paz. E ela preservou em dois frascos, enterrados sob uma árvore, as identidades de cada uma das crianças: nome verdadeiro e para onde fora encaminhada.

Quando os nazistas descobriram o que ela fazia, foi presa e levada à prisão de Pawiak. A Gestapo desejava que ela confessasse o paradeiro das crianças: Quantas seriam? Quem seriam? Onde estavam? Quem a havia auxiliado?

Irena teve quebrados seus pés e suas pernas e sofreu as mais vis torturas. A ninguém delatou e nada informou. Condenada à morte, foi salva a caminho da execução por um oficial alemão, subornado pela Resistência.  No dia seguinte, seu nome constava na lista dos executados. Ela continuou a trabalhar com identidade falsa.

Quando a guerra acabou, entregou os potes com a documentação ao Dr. Adolf Berman, primeiro presidente do Comitê de Salvamento dos Judeus Sobreviventes.

Em 1991, foi reconhecida como cidadã honorária do Estado de Israel. Em novembro de 2003, recebeu a mais alta condecoração polonesa: a Ordem da Águia Branca e também o Prêmio Jan Karski Pela Coragem e Coração. Foi indicada pelo governo da Polônia, em 2007, como candidata ao Prêmio Nobel da Paz. Também nesse ano, o Senado da República da Polônia, em resolução especial, homenageou Irena Sendler e o Conselho de Ajuda aos Judeus. Ainda em 2007, foi condecorada com a Ordem do Sorriso – a mais importante distinção concedida por crianças de todo o mundo. [2]

As crianças do gueto a conheciam pelo seu nome de código, Jolanta. Quando sua foto saiu nos jornais, pessoas começaram a entrar em contato: Lembro de seu rosto… Sou um daqueles meninos, lhe devo a minha vida.

Irena viveu anos numa cadeira de rodas, por causa das lesões e torturas sofridas . Nunca considerou a si própria, nem permitiu que a investissem na condição de heroína. Sempre ressaltou que trabalhava em equipe, que sem seus companheiros de Resistência não teria sido possível tamanha ousadia.

Essa mulher fantástica disse: Poderia ter feito mais. Este lamento me acompanhará até o dia de minha morte!

Irena morreu no dia 12 de maio de 2008, aos noventa e oito anos de idade. Ela figura entre as seis mil polonesas que ganharam o título de Justo entre as nações, concedido aos que trabalharam pelas vidas dos seus irmãos, nos negros dias da guerra vergonhosa.

Uma mulher que fez a diferença, com vontade e determinação.

 

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Irena_Sendler


[2] http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1279.


[3] http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/664681/jewish/Irena-Sendler.htm.

 

Fonte: http://www.mundoespirita.com.br 

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