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Mediunidade e homossexualidade

Adenáuer Novaes  [1]

Homossexualidade é a designação que se dá àquelas pes­soas que praticam sexo com gênero semelhante. Essa prática ocorre por uma série de motivos que variam de pessoa a pessoa que assim procede. Os motivos podem ter causas na indiferenciação psíquica sexual, no desequilíbrio do chakra genésico, na imitação comportamental, na curiosidade sexual, na preferência inata ou outros de natureza não definida. Não há uma causa precisa, nem decorre, como muitos pensam, do espírito ter tido a encarnação anterior num corpo do sexo oposto. Outros, absurdamente, pensam que se trata de expiação.

A homossexualidade não é doença, tampouco significa, a priori, a existência de um conflito psíquico. Quando ela se apresenta como um conflito deve a pessoa buscar ajuda profissional para compreender-se e resolver seu problema.

A necessidade de entender-se como homem ou como mu­lher impõe às pessoas que se coloquem como homossexuais, quando não se enquadram, pela preferência sexual que adotam, como típicos de seu gênero. Com isso, perdem a oportunidade de entender que sua natureza sexual não precisa dos estereótipos convencionais. Cada ser humano tem seu sexo psíquico (defini­ção sexual) específico. Não precisa se enquadrar neste ou na­quele tipo, nem num terceiro ou quarto. Definir-se como homem ou como mulher é uma necessidade psíquica para a maioria das pessoas, por necessidade cultural (meio social), importante para que o Espírito aprenda a educar sua energia sexual.

O espírito, psiquicamente falando, não é homem, mulher ou homossexual. Embora tenha as polaridades psíquicas (masculina e feminina), pode expressar-se dentro do espectro entre uma e outra. Isso significa dizer que a expressão do espírito, encarna­do ou desencarnado, pode se situar dentro da faixa que vai do masculino ao feminino. O ser humano não é homem nem mulher. Ele se apresenta com uma das denominações por conta da corre­lação que naturalmente faz entre a predominância de seu psiquismo e sua anatomia genital.

Ser homossexual não quer dizer, em se tratando do ho­mem, ter uma ´alma feminina´, isto é, ser sensível emocional­mente, pois esta característica pode estar presente em pessoas sensíveis, de ambos os sexos, independentemente de suas práti­cas sexuais. Geralmente, para não assinalar a preferência sexual diferenciada de alguém que é homossexual, especificamente do sexo masculino, afirma-se que a pessoa tem a ´alma feminina´. É importante que aprendamos a respeitar a preferência sexual das pessoas e que enxerguemos sua individualidade independen­te da opção que faça, qualquer que seja. Da mesma forma, ser homossexual, em se tratando da mulher, não quer dizer ser máscula ou rude, pois tais condições podem estar presentes em qualquer pessoa.

A mediunidade não provoca a homossexualidade nem esta contribui para sua existência. Mesmo que se observe a presença de homossexuais vinculados à prática da mediunidade formal (no Espiritismo, na Umbanda, no Candomblé e demais seitas ou reli­giões mediúnicas), isso não é suficiente para se estabelecer qual­quer relação de causalidade. A mediunidade está presente nos heterossexuais e nos homossexuais, isto é, em todos os seres hu­manos, independentemente de sua opção sexual. O uso da ener­gia psíquica no campo sexual não está associado ao desenvolvi­mento da mediunidade, tampouco acelera ou retarda sua expres­são.

A homossexualidade que se observa em certos médiuns ostensivos, quando é vivida com culpa, interfere nas comunica­ções mediúnicas por conta da intensidade do complexo psíquico gerado. As comunicações intelectuais tendem a ter um formato salvacionista e consolatório muito mais intenso e pesado. Os mé­diuns ostensivos que são homossexuais e que carregam uma cul­pa muito grande, por conta de suas práticas sexuais, condenadas socialmente, sofrem pela própria discriminação que fazem consi­go mesmos. Sua culpa interfere nos processos mediúnicos e no conteúdo das comunicações espirituais que porventura emitam.

A vivência da homossexualidade sem culpa requer a com­preensão da própria personalidade, a fim de não fazê-la sucumbir às exigências coletivas, encarando o desafio de realizar seu senti­do interno de viver. Para isso é preciso libertar-se dos preconcei­tos que impedem a felicidade no amor, isto é, amar outra pessoa como forma de alcançar o sentido supremo de viver, que é ser feliz sem infelicitar a outrem. A experiência de ser homossexual deve ser validada quando proporciona o crescimento da pessoa através do amor. Este sim, deve estar presente qualquer que seja a preferência sexual do indivíduo. Geralmente, quando lidamos com a homossexualidade, em nós ou em alguém, colocamos em nosso julgamento a pobreza moral ao emitir juízos de valor. O desequilíbrio porventura existente numa relação homossexual não está por conta da semelhança do gênero, mas no psiquismo dos indivíduos, que pode conter complexos desestruturantes. Nada há no Espiritismo que estimule a prática homossexual, tampouco que a reprima, pois se trata apenas de uma expressão do Espírito em busca de si mesmo. Já vivemos a experiência homossexual em algum período de nossa evolução, por conta da indiferenciação sexual característica dos primórdios da humanidade.

A transferência que normalmente os médiuns fazem para com os espíritos que se comunicam através deles, considerando-os gurus e salvadores, quando não os consideram santos, impede que eles próprios percebam sua verdadeira natureza. Tal meca­nismo projetivo pode confundir a própria sexualidade do médium, que se esquece de conservar sua identidade sexual, já que a mai­oria dos espíritos desencarnados evita falar com naturalidade so­bre sexo.

Sexo e mediunidade são temas distintos. O desejo sexual mobiliza a energia psíquica e a mediunidade é um sistema de co­municação espiritual pela via do inconsciente.

 

 

[1] Adenáuer Novaes. Conferencista, diretor da instituição filantrópica Fundação Lar Harmonia, do Centro Espírita Harmonia e do Centro Espírita Casa de Redenção Joanna de Ângelis, em Salvador. É formado em Engenharia Civil, Filosofia, Psicologia e pósgraduado em Psicologia Junguiana. Trabalha como psicólogo clínico. Escreveu vários livros sobre Psicologia e Espiritismo. Realiza cursos, seminários e conferências pelo Brasil e já visitou vários países da Europa divulgando a Doutrina Espírita.

Fonte: Psicologia e mediunidade

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